Este texto trata da história de uma guerreira maravilhosa do nosso passado e, também, trata do marco de um futuro que queremos e lutaremos nos próximos anos.
Podemos identificar na vida da guerreira Aqualtune, a princesa do quilombo de Palmares, lições e estratégias que podem nos ajudar durante o processo de estudos, a fim de alcançarmos o tão almejado cargo nas carreiras jurídicas.
A história de Aqualtune inicia no Congo, no continente Africano, onde ela era princesa e irmã do rei do país. Durante o reinado de seu irmão, houve uma batalha entre o país e Portugal, chamada Batalha de Ambuila, onde Aqualtune liderou uma frota com mais de 10 mil homens. Porém, seu irmão foi decapitado e ela capturada, feita escrava, estuprada e marcada com ferro quente no seio esquerdo, indicando sua serventia para reprodução. Ao ser vendida, a princesa teve como destino Recife.
Na fazenda para onde a levaram, Aqualtune engravidou, mas, mesmo assim, liderou, nos últimos meses de gestação, a fuga de mais de 200 homens para o Quilombo dos Palmares.
Apesar de ser pouco lembrada em livros de história e em salas de aula, Aqualtune foi uma figura muito importante para a história da população negra durante o Período Colonial. Ela simbolizou liderança e luta dentro do sistema escravista e passou isso adiante por meio de seus herdeiros, os líderes Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares. A princesa, com seus conhecimentos políticos, organizacionais e de estratégia de guerra, foi fundamental para a consolidação do Estado Negro, a República de Palmares.
E o que podemos tirar de lição da vida dessa guerreira?
Primeiro: não se entregue as circunstâncias, LUTE. A intenção não é a de minimizar o sofrimento de ninguém, contudo não podemos nos paralisar diante das circunstâncias. Tudo na vida é questão de escolha: ou escolhe sofrer, lutar e vencer ou escolhe sofrer, parar e continuar sofrendo.
Quando ganhei minha bolsa na Universidade Católica, passava boa parte do meu tempo estudando. Assim como alguns de vocês, tinha dia que havia apenas biscoito para comer e, por isso, posso dizer: não desista, VOCÊ VAI CONSEGUIR!
Segundo: tenha um objetivo e saiba aonde você quer chegar. Crie e tenha em mente desde cedo, estratégias para alcançar o que almeja.
O Poder Judiciário é, em sua maioria, composto por pessoas brancas e, por isso, muitos dizem que este espaço não é para nós. Lembro-me de uma entrevista do Baco Exu do Blues, que ele dizia se sentir deslocado em vários ambientes considerados apenas para brancos, eu também já me senti assim e ainda sinto. Mas saiba de uma coisa: o sistema racista estrutural foi feito para gente pensar assim. Olhe a sua volta, quantos negros há ocupando os espaços de poder? Todas as correntes começam a partir da nossa mente, OCUPE O SEU LUGAR.
Terceiro: busque seu quilombo, sua irmandade. Quando você encontra àqueles que possuem os mesmos objetivos que você, a luta fica mais leve. Foi por meio da ABAYOMI que eu pude fazer amizade com mulheres guerreiras e parceiras, que me dão força e inspiração para lutar todos os dias. Somos uma irmandade, onde ninguém solta a mão de ninguém.
E por último, esteja sempre em busca da sua lenda pessoal. Uma das coisas que Aqualtune não queria era viver como escrava e, assim, ela lutou, fugiu para um quilombo, foi líder, constituiu uma família e educou grandes guerreiros e guerreiras, como Zumbi dos Palmares e Dandara.
Um dos sonhos que eu tinha desde os meus 10 anos de idade era o de entrar na faculdade. Eu sabia o que queria. Eu sabia que se não estudasse, continuaria no mesmo ciclo de dororidade que muitas mulheres negras vivem. Foi por Aqualtune, por todos os que guerrearam contra a escravidão, por mim, que corri atrás da minha lenda pessoal, corra você também.
Não seja um mero expectador da sua vida, não deixe que o sistema racista imponha regras dizendo o que você pode ou não pode ser.
Seja protagonista da sua história. Seja protagonista da sua vida.
Sabrina Santos Advogada
*Este artigo é produzido com o apoio do Fundo Baobá, por meio do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.
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