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MNU: 42 anos de luta e resistência


07 de julho de 1978. Ditadura Militar. Escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. Ato Público contra a violência, a discriminação e o racismo. Duas mil pessoas.


O ato, em repúdio à discriminação racial sofrida por quatro jovens negros e em protesto à morte de Robson Silveira da Luz, trabalhador e pai de família negro, acusado de roubar frutas em seu local de trabalho e torturado até a morte no 44º Distrito de Guaianases, marcou a criação de um novo movimento, o MNU – Movimento Negro Unificado.


O Movimento é uma organização que nasceu para lutar e denunciar opressões e perseguições do povo negro, ou seja, para representar a população negra em sua luta pela liberdade.


Durante o ato, Milton Barbosa e José Adão declararam as ações do Movimento, por meio da leitura da Carta de Princípios, na qual abrangia diversos itens de extrema importância para a comunidade negra, como: a luta contra o desemprego; a violência policial; o direito a saneamento básico; a defesa de posses de terras; a organização do trabalhador rural; a liberdade sindical; além do apoio na luta internacional contra o racismo.


No mesmo ano, o Movimento obteve uma de suas maiores conquistas: tornar o dia 20 de novembro o Dia Nacional da Consciência Negra. A conquista foi durante Assembleia Nacional em Salvador, na Bahia.


O MNU foi fundamental para a luta racial e antidiscriminatória no país, e promoveu uma mudança na luta das organizações negras, o que antes era salas de debates, atividades lúdicas e esportivas, tornou-se ações de confronto compostas por panfletos, jornais, atos públicos e núcleos organizados em associações recreativas, de moradores, de trabalhadores e de universitários.


Na década de oitenta, a organização realizou uma das mais importantes manifestações contra o Apartheid na África do Sul, mesmo sem apoio político ou financeiro da Organização das Nações Unidas – ONU. No mesmo período, o MNU realizou o VIII Encontro de Negros do Norte-Nordeste, onde banalizaram a atual Lei 10.639/03, que abordava o ensino de História da África e do Negro no Brasil, nas escolas.



O Movimento conquistou a demarcação das terras quilombolas, o reconhecimento de Zumbi dos Palmares como herói nacional, a criação da Lei 10.639 que institui a história afro-brasileira nas escolas, o crescimento da quantidade de pessoas negras em universidades, as cotas universitárias e no serviço público, o fortalecimento da consciência racial, entre outros.


Em 1984, a partir da forte presença da organização em debates sobre a discriminação racial, o Estado criou o primeiro órgão público voltado para o apoio dos movimentos sociais afro-brasileiros: o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, na cidade de São Paulo. O movimento também indicou um representante para compor a Comissão Afonso Arinos, que criminalizou a discriminação racial na Constituição Brasileira de 1988.


Figuras importantes tiveram papeis fundamentais no Movimento, como Lélia Gonzales (intelectual, política, professora e antropóloga brasileira) e Luiza Barros (administradora, foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil).


O MNU obteve muitas conquistas, mas também lutou contra o racismo, a repressão, as detenções e as demissões de militantes sindicais. A luta do movimento está longe de acabar, já que o racismo mata homens e mulheres, jovens e adultos, religiosos ou não, simplesmente por sua cor.


Vida longa ao Movimento Negro Unificado! Que a luta permaneça e a reparação histórica seja feita.


Gabriela Tanabe

Relações Públicas


*Este artigo é produzido com o apoio do Fundo Baobá, por meio do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.




Referências:



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