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Foto do escritorJuliana Lima

Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji: nossa garra vem de longe



Imagem: internet


Nossa cultura é baseada na honra de nossos ancestrais, afinal, nós somos aqueles que vieram antes de nós e a busca pelo resgate dos nossos deve ser constante, pois a política de apagamento do nosso povo persiste há séculos.


Hoje, recordaremos de uma mulher que é referência em obstinação e liderança, nossa homenagem é a Rainha Nzinga, também grafada de Ginga, Jinga, Singa, Zhinga e outros nomes da família linguística Banto (ou Bantu).


Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji nasceu em 1582, no Ndongo, hoje parte da Angola, e era filha de Ngola. Começou a ser treinada para o combate e o uso de armas ainda na infância. Com oito anos de idade, junto com seu pai, esteve presente em uma batalha como parte dos exercícios de guerra. Com a morte dele, em 1617, seu irmão Mbandi tornou-se Ngola ascendendo ao trono de Ndongo.


Em 1621, Nzinga, que na época era embaixadora do reino, foi enviada por Ngola Mbandi para negociar a paz entre Portugal e Ndongo, com o novo governador português que foi à Luanda.

“Como o governador a recebeu sentado e não lhe ofereceu cadeira, Nzinga fez um sinal para uma de suas acompanhantes que se colocou de quatro no chão para a princesa sentar-se sobre ela. Ao sair, deixou a moça na sala, na mesma posição, como se fosse um banco. O governador avisou-a para levar a moça e Nzinga respondeu-lhe que não sentaria novamente naquele banco, pois tinha muitos outros e não o queria mais” (Joelza, do Ensino História).

Sua altivez causou um grande temor aos europeus que, na tentativa de colonizar seu reino, negociava com Nzinga que inclusive aprendeu a falar em português. Em alguns relatos, os europeus, a descrevia:


[...]”um demônio em forma humana que ultrapassa Semíramis, Cleópatra, a famosa Judith e Artêmis.” - Carta de Fernão de Souza ao Rei de Portugal.

A inteligência de Nzinga e a sua resistência à subversão, era algo que os colonizadores não estavam acostumados. Em uma das negociações, Nzinga, já rainha, “exigiu que os portugueses abandonassem suas instalações no continente, que entregassem os chefes africanos prisioneiros e ainda um lote de armas de fogo. Em sinal de sua intenção de celebrar o acordo de paz, Nzinga aceitou o batismo católico sob o nome português Ana de Souza. A conversão foi um jogo político do qual ela vai se valer em outros momentos para ganhar confiança e confundir os portugueses.” Joelza, do Ensino História.


A rainha Nzinga Mbandi governou e guerreou de forma ostensiva e estratégica, o que causou estranhamento aos que não a conheciam, tendo em vista que, para época e as tradições europeias, era imaginável uma mulher com tal postura e liderança.


A fama de Ginga atravessou os séculos e os oceanos. A memória histórica e a representação de Nzinga estão intimamente ligadas ao símbolo de resistência e autonomia. Sendo evocada em festas populares e autos religiosos realizados no Brasil.

Nas Congadas, a rainha Ginga aparece como:


“seu nome soberano, dispondo vidas, determinando guerras, vencendo sempre. Reaparece lembrando, não as campanhas contra os portugueses, mas nas incursões militares aos sobatos vizinhos, régulos do Congo” -  Priscila Weber.

No dia 31 de janeiro, celebramos o nascimento de Nzinga com a memória de uma rainha guerreira que resistiu aos desmandos dos portugueses, que guerreou com bravura, que apreciava ter poder e era cheia de altivez e obstinação. Nossa singela homenagem àquela que não se curvou.



Juliana Lima

Advogada





*Este artigo é produzido com o apoio do Fundo Baobá, por meio do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Ele reflete a opinião da Abayomi Juristas Negras e não dos apoiadores que contribuíram com sua produção.




Referências:

Nzinga Mbandi: representações de poder e feminilidade na obra do padre Cavazzi de Montecúccolo - Priscila Weber


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